Um dos escritores portugueses que mais admiro é José Luis Peixoto, que como eu, tirou o curso de ensino de inglês/alemão.A grande diferença entre mim e este excelente Sr é precisamente a forma como organizamos as palavras. Aqui deixo 1 excerto d1 obra dele. Isto é 1 verdadeiro texto para reflectir.
Não há nenhuma diferença entre aquilo que aconteceu mesmo e aquilo que fui distorcendo com a imaginação, repetidamente, repetidamente, ao longo dos anos. Não há nenhuma diferença entre as imagens baças que lembro e as palavras cruas, cruéis, que acredito que lembro, mas que são apenas reflexos construídos pela culpa. O tempo, conforme um muro, uma torre, qualquer construção, faz com que deixe de haver diferenças entre a verdade e a mentira. O tempo mistura a verdade com a mentira. Aquilo que aconteceu mistura-se com aquilo que eu quero que tenha acontecido e com aquilo que me contaram que aconteceu. A minha memória não é minha. A minha memória sou eu distorcido pelo tempo e misturado comigo próprio: com o meu medo, com a minha culpa, com o meu arrependimento. Quando me lembro de ter quatro anos e de estar a brincar no quintal, não sei onde terminam as imagens que os meus olhos de quatro anos viram e que permanecem até hoje comigo, ou onde terminam as imagens que inventei sempre que tentei lembrar-me dessa tarde.
2 comentários:
O que guardamos possui uma pequena parte de verdade e outra de exagero. Não é mentira o que vemos quando olhamos para trás, é a verdade através dos olhos de uma criança facilmente impressionavel. Não é mentira o que lembramos, é o peso da idade que tenta adaptar a imagem do grande baloiço que se segurava no céu e nos levava a viajar pelo mundo. Não é mentira o que passamos, é um mundo que desapareceu e a uníca memórica é a nostalgia que nos tenta prender à pequena réstia de juventude que nos resta.
Para ti Cátia
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